DERMATOBIOSE
A denominação miíase
refere-se aos parasitismos causados por larvas de moscas em órgãos e tecidos
humanos ou de outros vertebrados. Existem algumas espécies causadoras dessas
parasitoses, entre elas, a larva da mosca Dermatobia
hominis (Linnaeus, 1718), um inseto exclusivamente neotropical, encontrado
em regiões florestais. No Brasil, ocorre em todos os estados, exceto nos de
clima seco, como a região nordeste.
A larva da mosca de Dermatobia
hominis recebe o nome popular de berne, e causa um parasitismo cutâneo em
vários vertebrados, como humanos, cães e bovinos, sendo estes últimos os mais
afetados.
ASPECTOS
MORFOLÓGICOS
A mosca adulta de Dermatobia
hominis, mosca berneira, mede em média 1,2 cm de comprimento, apresenta
corpo robusto, com coloração da face amarelada, o tórax castanho com reflexos
azulados, abdome azul metálico, pernas alaranjadas e asas grandes e
amarronzadas.
Um aspecto interessante desses insetos compreende a fase
adulta: eles não se alimentam, e tem sobrevida curta, de 2 a 19 dias. Toda a energia que
possuem nesta fase deriva de reservas obtidas durante a fase larvária. (NEVES,
2009).
Os ovos são alongados, com formato de bananas em uma
penca, medindo cerca de 0,3
mm de comprimento e de coloração esbranquiçada. Em seis
dias, os ovos estão maduros, e em cada um deles em seu interior há uma larva, que
possui um opérculo em forma de unha, com o qual o verme tenta agarrar-se ao
pelo ou à pele do vertebrado. Esta larva mede aproximadamente um milímetro e
meio de comprimento, e, uma vez atingida a pele do hospedeiro, volta seus
espiráculos respiratórios para fora, enquanto a boca fica para dentro,
alimentando-se ativamente. (NEVES, 2009; REY, 2010). Quando a
larva torna-se madura, atinge de 18
a 24 mm,
com corpo dilatado na porção anterior e mais delgado posteriormente.
A
extremidade oral possui ganchos bucais, e no corpo há numerosos espinhos,
utilizados para fixação nos tecidos do hospedeiro. (REY, 2010).
TRANSMISSÃO
O berne é transmitido por moscas ou mosquitos, geralmente
insetos hematófagos, insetos foréticos que servem de transporte dos ovos, os
quais possuem as larvas no interior, e foram depositados em seu abdome pela
mosca fêmea de Dermatobia hominis. O
berne na sua fase minúscula pode penetrar na pele quando este mosquito ataca o
vertebrado em busca de alimento.
CICLO
BIOLÓGICO E HABITAT
O ciclo de vida das moscas compreende as fases: ovo,
larva, pupa e fase adulta.
Na desova da mosca Dermatobia hominis, as fêmeas ficam em
locais protegidos, à espera de outras moscas ou mosquitos hematófagos, e no
momento oportuno, se agarram em pleno voo, depositando de 10 a 15 ovos no
abdome deste inseto capturado. No total, entre 400 a 800 ovos são produzidos
durante a sobrevida adulta de Dermatobia
hominis, que dura de 10 a
19 dias. (NEVES, 2009).
A larva no interior do ovo sobrevive
por até 20 dias, tentando agarrar-se nos pelos ou na pele do hospedeiro. Conseguindo
este feito, penetra na pele do novo hospedeiro, perfurando o epitélio ou
utilizando a lesão ocasionada pela hematofagia do inseto vetor. Com a extremidade anterior mergulhada na derme,
a larva alimenta-se ativamente, e sofre duas mudas. Esta fase larvária dura de 1 a 3 meses e então, já maduro,
o berne deixa a pele do hospedeiro, transforma-se em pupa e enterra-se no solo,
processo que dura de 1 a
3 meses. Após este período, deixa o pupário e cerca de 3 horas depois, os
insetos adultos estão ativos para cópula. Três dias após a cópula, a fêmea
inicia a oviposição em outros insetos. (NEVES, 2009).
SINTOMAS
E PATOGENIA
Pode ocorrer sensação de picada ou prurido, pela
penetração da larva na pele. Pela própria reação da resposta imunológica,
desenvolve-se nesta região uma inflamação, ficando a pele avermelhada e
elevada. Nas paredes da lesão forma-se uma cápsula fibrosa. O berne tem
preferência pela região dorsal do hospedeiro. Durante a afecção, pode ocorrer
dor aguda, devido à ferroada e movimentos da larva.
Com o estágio larvário completado, o berne tende a sair
da pele do hospedeiro, deixando um local exposto para entrada de bactérias e
micro-organismos, incluindo bacilos de tétano. Neste local podem se desenvolver
furúnculos ou flegmão. (REY, 2010).
MEDIDAS
PREVENTIVAS (PROFILAXIA)
Para prevenir a contaminação por moscas de Dermatobia hominis é preciso evitar
exposição ao habitat dessas moscas, ou seja, regiões florestais, de capoeiras,
pequenas matas e bosques. Uso de repelente também é indicado, evitando a picada
de insetos foréticos (que transportam os ovos). Em animais como o cão e o boi,
o uso de produtos fosforados previnem a miíase por Dermatobia hominis, pois estes, entrando em contato com a pele
tratada, acabam morrendo antes da penetração.
REFERÊNCIAS
NEVES, D. P. Parasitologia
Dinâmica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio
de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2010.