domingo, 26 de maio de 2013

DERMATOBIOSE


A denominação miíase refere-se aos parasitismos causados por larvas de moscas em órgãos e tecidos humanos ou de outros vertebrados. Existem algumas espécies causadoras dessas parasitoses, entre elas, a larva da mosca Dermatobia hominis (Linnaeus, 1718), um inseto exclusivamente neotropical, encontrado em regiões florestais. No Brasil, ocorre em todos os estados, exceto nos de clima seco, como a região nordeste.

A larva da mosca de Dermatobia hominis recebe o nome popular de berne, e causa um parasitismo cutâneo em vários vertebrados, como humanos, cães e bovinos, sendo estes últimos os mais afetados.


ASPECTOS MORFOLÓGICOS

A mosca adulta de Dermatobia hominis, mosca berneira, mede em média 1,2 cm de comprimento, apresenta corpo robusto, com coloração da face amarelada, o tórax castanho com reflexos azulados, abdome azul metálico, pernas alaranjadas e asas grandes e amarronzadas.

Um aspecto interessante desses insetos compreende a fase adulta: eles não se alimentam, e tem sobrevida curta, de 2 a 19 dias. Toda a energia que possuem nesta fase deriva de reservas obtidas durante a fase larvária. (NEVES, 2009).

Os ovos são alongados, com formato de bananas em uma penca, medindo cerca de 0,3 mm de comprimento e de coloração esbranquiçada. Em seis dias, os ovos estão maduros, e em cada um deles em seu interior há uma larva, que possui um opérculo em forma de unha, com o qual o verme tenta agarrar-se ao pelo ou à pele do vertebrado. Esta larva mede aproximadamente um milímetro e meio de comprimento, e, uma vez atingida a pele do hospedeiro, volta seus espiráculos respiratórios para fora, enquanto a boca fica para dentro, alimentando-se ativamente. (NEVES, 2009; REY, 2010). Quando a larva torna-se madura, atinge de 18 a 24 mm, com corpo dilatado na porção anterior e mais delgado posteriormente. 

A extremidade oral possui ganchos bucais, e no corpo há numerosos espinhos, utilizados para fixação nos tecidos do hospedeiro. (REY, 2010).


TRANSMISSÃO

O berne é transmitido por moscas ou mosquitos, geralmente insetos hematófagos, insetos foréticos que servem de transporte dos ovos, os quais possuem as larvas no interior, e foram depositados em seu abdome pela mosca fêmea de Dermatobia hominis. O berne na sua fase minúscula pode penetrar na pele quando este mosquito ataca o vertebrado em busca de alimento.


CICLO BIOLÓGICO E HABITAT

O ciclo de vida das moscas compreende as fases: ovo, larva, pupa e fase adulta.

Na desova da mosca Dermatobia hominis, as fêmeas ficam em locais protegidos, à espera de outras moscas ou mosquitos hematófagos, e no momento oportuno, se agarram em pleno voo, depositando de 10 a 15 ovos no abdome deste inseto capturado. No total, entre 400 a 800 ovos são produzidos durante a sobrevida adulta de Dermatobia hominis, que dura de 10 a 19 dias. (NEVES, 2009).

A larva no interior do ovo sobrevive por até 20 dias, tentando agarrar-se nos pelos ou na pele do hospedeiro. Conseguindo este feito, penetra na pele do novo hospedeiro, perfurando o epitélio ou utilizando a lesão ocasionada pela hematofagia do inseto vetor. Com a extremidade anterior mergulhada na derme, a larva alimenta-se ativamente, e sofre duas mudas. Esta fase larvária dura de 1 a 3 meses e então, já maduro, o berne deixa a pele do hospedeiro, transforma-se em pupa e enterra-se no solo, processo que dura de 1 a 3 meses. Após este período, deixa o pupário e cerca de 3 horas depois, os insetos adultos estão ativos para cópula. Três dias após a cópula, a fêmea inicia a oviposição em outros insetos. (NEVES, 2009).


SINTOMAS E PATOGENIA

Pode ocorrer sensação de picada ou prurido, pela penetração da larva na pele. Pela própria reação da resposta imunológica, desenvolve-se nesta região uma inflamação, ficando a pele avermelhada e elevada. Nas paredes da lesão forma-se uma cápsula fibrosa. O berne tem preferência pela região dorsal do hospedeiro. Durante a afecção, pode ocorrer dor aguda, devido à ferroada e movimentos da larva.

Com o estágio larvário completado, o berne tende a sair da pele do hospedeiro, deixando um local exposto para entrada de bactérias e micro-organismos, incluindo bacilos de tétano. Neste local podem se desenvolver furúnculos ou flegmão. (REY, 2010).


MEDIDAS PREVENTIVAS (PROFILAXIA)

Para prevenir a contaminação por moscas de Dermatobia hominis é preciso evitar exposição ao habitat dessas moscas, ou seja, regiões florestais, de capoeiras, pequenas matas e bosques. Uso de repelente também é indicado, evitando a picada de insetos foréticos (que transportam os ovos). Em animais como o cão e o boi, o uso de produtos fosforados previnem a miíase por Dermatobia hominis, pois estes, entrando em contato com a pele tratada, acabam morrendo antes da penetração.


REFERÊNCIAS

NEVES, D. P. Parasitologia Dinâmica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.


REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2010.






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