domingo, 26 de maio de 2013

ANCILOSTOMÍASE


A Ancilostomíase, também chamada de Opilação ou Amarelão, é uma infecção por helmintos nematoides. As duas espécies de ancilostomídeos mais importantes como agentes etiológicos de infecções humanas são: Ancylostoma duodenale (Dubini, 1843) e Necator americanus (Stiles, 1902). A. caninum (Dubini, 1843) e A. braziliense (Gomes, 1910) podem atingir a pele de humanos, causando dermatite serpiginosa ou bicho geográfico. A Ancilostomíase apresenta distribuição geográfica mundial, prevalecendo em locais com precárias condições de saneamento, sendo que no Brasil predomina as infecções por N. americanus. (NEVES, 2009).



ASPECTOS MORFOLÓGICOS

Os ancilostomídeos são vermes cilíndricos, de coloração branca, com cerca de um centímetro de comprimento, sendo os machos menores que as fêmeas; apresentam cápsula bucal, com a qual o animal se prende à parede do órgão parasitado. As fêmeas apresentam uma cauda pontiaguda, enquanto que no macho há uma expansão na extremidade posterior para formar a bolsa copuladora, características que tornam o dimorfismo sexual bem nítido; o sistema digestório constitui-se de boca, esôfago e intestino. (NEVES, 2009).

Ancilostomídeo macho: Bolsa copuladora


Ancilostomídeo macho: Bolsa copuladora

Ancilostomídeos: dimorfismo sexual


As espécies apresentam cápsula bucal distinta com relação a sua morfologia, permitindo a diferenciação entre espécies. Destacando as espécies mais importantes como agentes etiológicos de infecções humanas, temos:


·  Ancilostoma duodenale: a cápsula bucal é profunda, com dois pares de dentes ventrais na margem interna superior da boca e um par de dentes subventrais na porção inferior.

Cápsula Bucal - A. duodenale

·   N. americanus: com cápsula bucal apresentando duas lâminas cortantes, na margem interna da boca, subventralmente, e duas outras lâminas cortantes, subdorsalmente.

Cápsula Bucal - N. americanus

Os ovos de ancilostomídeos tem forma ovoide ou elíptica. Medem de 40 a 60 μm de diâmetro, apresentam uma massa de células envolvida com uma casca fina e transparente, e entre a casca e a célula-ovo há um espaço claro. A fêmea de A. duodenale põe de 20.000 a 30.000 ovos diariamente, enquanto N. americanus, em torno de 9.000 ovos/dia. A larva pode ficar completamente formada depois de 18 horas. (NEVES, 2009; REY, 2008).




TRANSMISSÃO

A infecção de humanos pode ocorrer por penetração das larvas L3 (filarioides) infectantes na pele ou na mucosa bucal ou por ingestão oral, junto com alimentos ou água contaminados com as larvas.




CICLO BIOLÓGICO DAS LARVAS E HABITAT

·   Ovos de ancilostomídeos são eliminados nas fezes, apresentando uma massa de células;

·   inicia-se a formação da larva rabditoide L1, ou seja, com esôfago diferenciado em corpo, istmo e bulbo posterior, com comprimento de cerca de 250 μm. Esta larva sofre segunda muda, e no terceiro estágio muda para larva filarioide, com esôfago cilíndrico, alongado e sem bulbo;

·   ao fim de mais uma semana se torna infectante, e passa a apresentar uma bainha em sua estrutura.

As larvas de ancilostomídeos permanecem no solo por cerca de seis meses, isso se encontrarem ambiente adequado para sua sobrevivência: umidade, temperatura variando entre 25 e 30 °C e sem incidência direta de luz. (REY, 2008).

Ocorre influência de quatro tipos de tropismos:
1. Geotropismo negativo: tendência de deslocamento para a superfície do solo, em pontos mais elevados, acumulando-se como feixes de larvas nas extremidades de galhos, de folhas ou qualquer relevo do solo.
2. Termotropismo positivo: buscam temperaturas mais elevadas, pois ativam sistemas enzimáticos, facilitando sua penetração pela pele de um possível hospedeiro.
3. Hidrotropismo positivo: tendência das larvas em buscar solos úmidos, pois a dessecação da superfície faz com que voltem a enterrar-se, pois podem morrer desidratadas.
4. Tigmotropismo positivo: tendência das larvas em aderir partículas sólidas ou mesmo à superfície cutânea do hospedeiro. (CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S., 2010).
           


CICLO BIOLÓGICO DA ANCILOSTOMÍASE

·    Larvas rabditoides (L2) transformam-se em larvas filarioides infectantes (L3) no solo, em condições ideais de temperatura, umidade e luminosidade;

·    larvas filarioides, penetram na pele ou as mucosas e caem na corrente sanguínea, sendo levadas para o coração e consequentemente para os pulmões;

·  após aproximadamente cinco dias, chegam aos brônquios e bronquíolos, onde se transformam em larvas L4 e migram para a faringe. Se não forem expelidas junto com a secreção mucoide que as envolve ou serem deglutidas, chegam ao intestino delgado após três dias;

·    no intestino delgado iniciam a hematofagia, e após quinze dias transformam-se em larvas L5. Após mais quinze dias, passam a ser vermes adultos e iniciam a cópula. Então, pode-se concluir que o período desde a penetração na pele até a eliminação de ovos pelas fezes varia de 35 a 60 dias;

·    os vermes adultos vivem entre 4 e 5 anos no intestino delgado, onde se prendem à mucosa através de sua cápsula bucal.

Observação: Na ingestão oral das larvas, não ocorre o ciclo pulmonar; larvas infectantes atravessam o estômago e se dirigem para o duodeno, onde se transformam em larvas L4, penetram na mucosa do intestino, permanecendo neste local por três ou quatro dias e retornam à luz intestinal, e após cerca de quatro dias, transformam-se em larvas L5. Fixam-se à mucosa do intestino como vermes adultos e iniciam hematofagia. Este ciclo leva em torno de 30 dias. (CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S., 2010).


SINTOMAS E PATOGENIA

Esta infecção é geralmente sintomática, e a quantidade de parasitos por hospedeiro apresenta a seguinte relação: menos de 50 vermes, a infecção é leve; entre 200 e 500 vermes pode ocorrer anemia; entre 500 e 1000 parasitos a infecção é intensa, e acima deste valor, torna-se muito intensa. Com relação aos sintomas, ocorrem manifestações cutâneas, como erupções, edema e forte prurido. Devido à presença de larvas migrando nos pulmões, podem ocorrer alterações pulmonares, febre, tosse com muco e síndrome de Loeffler. Após um mês da infecção esta sintomatologia tende a decrescer, dando espaço a problemas intestinais, com indisposição abdominal e febre, diarreia com sangue, fraqueza e em estágios agudos, anemia. Nota-se na mucosa numerosas úlceras hemorrágicas. A espoliação sanguínea é elevada, e ocorrem alterações gastrointestinais durante o período de postura dos vermes.


Na infecção por via oral, a migração de larvas pode ocasionar náuseas, vômitos, tosse e dispneia. Na fase crônica, o paciente apresenta mucosas pálidas, característica que justifica o nome popular da doença – amarelão –, além de estar fraco e debilitado. Crianças podem ter seu SNC afetado, ocasionando baixo rendimento escolar. Na fase grave da infecção, a criança torna-se subdesenvolvida física e mentalmente. (NEVES, 2009).


MEDIDAS PREVENTIVAS (PROFILAXIA)

Sabendo que a ancilostomíase prevalece em regiões mais pobres e com saneamento precário ou ausente, é necessário investir nos serviços de tratamento de água e esgoto, além de educação ambiental e sanitária a toda população, especialmente àquelas que moram em áreas com situações propícias à infecção. Hábitos de higiene pessoal e cuidados com a alimentação (como lavar bem as mãos e os alimentos, na preparação e no consumo destes) são fatores essenciais de medidas profiláticas.


REFERÊNCIAS

CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia humana e seus fundamentos gerais. 2. Ed. São Paulo: Atheneu, 2010.


NEVES, David Pereira. Parasitologia Dinâmica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.


REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2010.





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