domingo, 26 de maio de 2013

ASCARIDÍASE


A Ascaridíase é também chamada de Ascaríase, Ascaridiose ou Ascaridose. O agente causador é um helminto nematoide intestinal, o Ascaris lumbricoides (Linnaeus, 1758) popularmente denominado bicha ou lombriga. Habita o intestino delgado do hospedeiro. 

A Ascaridíase apresenta distribuição mundial, principalmente em regiões de clima tropical e temperado. Prevalece em crianças e adolescentes, e onde as condições sanitárias são precárias. No Brasil estima-se que a Ascaridíase esteja entre as mais frequentes das enteroparasitoses. Quanto à infecção, geralmente é assintomática, mas pode evoluir a quadros clínicos graves e de natureza obstrutiva.



ASPECTOS MORFOLÓGICOS

Os áscaris são vermes de corpo cilíndrico e longo, de coloração amarelada e rosada quando recém-emitidos. As fêmeas são maiores que os machos, e também mais grossas, medindo entre 25 e 40 cm de comprimento por 3 a 6 mm de diâmetro. Os machos, por sua vez, apresentam corpo medindo de 15 a 20 cm por 2 a 4 mm de diâmetro, com um enrolamento ventral e espiralado na sua cauda, onde há dois espículos quitinosos e retráteis utilizados para cópula. O desenvolvimento do parasito varia de acordo com a quantidade de vermes no hospedeiro. Quanto mais helmintos, menor é o tamanho do corpo destes. Estima-se que há em média 10 vermes por parasitado; porém, há relatos de 500 a 700 áscaris em um único hospedeiro. (GRYSCHEK; LESCANO, 2008).



A. lumbricoides: macho e fêmea

Áscaris adulto -macho (enrolamento ventral e espiralado na cauda)

Vermes adultos de Ascaris lumbricoides: fêmea e macho. Fonte: http://www.parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/adultos-alumbricoides/


Verme adulto fêmea de Ascaris lumbricoidesFonte: http://www.parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/adultos-alumbricoides/
Os Ascaris lumbricoides apresentam boca cercada por três lábios grandes, providos de papilas sensoriais, seguida pelo esôfago e intestino achatado em forma de fita, que desemboca no ânus. O aparelho genital é bem desenvolvido: o da fêmea mede mais de um metro de comprimento, com cerca de 25 milhões de ovos. No macho há um testículo tubular, longo e enovelado.

Os ovos medem em média 60 x 45 µm e são ovais ligeiramente esféricos. Possuem três camadas: a primeira, a mais interna, é impermeável, vitelínica; a camada média é mais espessa, lipídica, quitinosa e lisa; a terceira camada, a mais externa, é proteica, pegajosa, constituída por mucopolissacarídeos e secretada pela parede uterina do verme, com coloração marrom devido a pigmentos fecais. Os ovos são resistentes e sobrevivem no meio externo de seis meses até dois anos, inclusive em temperaturas baixas, na presença de oxigênio. Em solos argilosos e úmidos, a sobrevivência pode se estender por seis anos, e podem ser dispersos pelo vento, pela chuva e por vetores mecânicos.   (GRYSCHEK; LESCANO, 2008; REY, 2010).



Ovo fértil de Ascaris lumbricoides com membrana mamilonada (400X).


TRANSMISSÃO

Os ovos de áscaris são eliminados junto com as fezes. Se caírem em solo úmido e sombreado, com temperatura entre 15 e 35ºC, em duas a oito semanas forma-se (dentro do ovo, por processo de embrionamento) a larva L3, que é a forma infectante, a qual permanece no interior do ovo até o mesmo ser ingerido. A transmissão se dá pela contaminação via oral desses ovos embrionados. (GRYSCHEK; LESCANO, 2008).



CICLO BIOLÓGICO E HABITAT


·    Inicia-se pela ingestão de ovos embrionados (L3), que eclodem no intestino delgado do hospedeiro humano;

·   as larvas atravessam a parede intestinal, atingem um capilar sanguíneo ou linfático e migram via sistema porta para o fígado, chegando ao coração;

·    as larvas são levadas para os pulmões, realizando ciclo pulmonar entre 4 a 5 dias após a infecção, e continuam evoluindo por meio de muda ou ecdise. Passam para L4, as quais atravessam a parede que separa os capilares das cavidades alveolares, e nos alvéolos evoluem para L5;

·   arrastadas com o muco devido aos movimentos ciliares da mucosa, as larvas L5 atingem os bronquíolos, sobem pela traqueia e laringe, são deglutidas e chegam ao estômago e intestino;

·  após 15 dias da ingestão dos ovos, as larvas tornam-se adultos jovens com aproximadamente 6 mm, e continuam crescendo;

·   o desenvolvimento sexual se completa em cerca de dois meses (macho ou fêmea);

·   passados 65 dias da infecção, as fêmeas de áscaris tornam-se capazes de eliminar entre 200 mil a 240 mil ovos diariamente durante sua sobrevida, que é de cerca de um ano.  

(GRYSCHEK; LESCANO, 2008; REY, 2010).



SINTOMAS E PATOGENIA

A Ascaridíase é geralmente assintomática. Quando sintomática, é devido à patogenia causada durante a migração larvária e quando os vermes adultos já estão em seu habitat definitivo.

Em indivíduos onde a infecção é acentuada, a migração de larvas poderá causar focos hemorrágicos, necrose, reação inflamatória, aumento de volume do fígado, síndrome de Loeffler nos pulmões (caracterizada por tosse, dispnéia, febre e eosinofilia sanguínea), bronquite e em alguns casos até lesões pulmonares graves e fatais.

Na infecção intestinal a presença de vermes adultos ocasiona sintomatologia variada, podendo ser inexistente ou sintomática, e neste caso, há quadros de anorexia, dor abdominal, cólicas, náuseas, vômitos e diarreia.

Quando os vermes adultos migram do habitat para outros locais ectópicos ou erráticos do organismo (como vias biliares, canal pancreático) podem causar obstrução e oclusão, pelo chamado “bolo de áscaris” decorrente do enovelamento dos parasitos. Pode ainda ocorrer perfuração intestinal.

Em geral, o parasitado descobre ocasionalmente a doença, quando faz um exame clínico ou quando elimina naturalmente os vermes adultos via anal, oral ou pelo nariz, o que pode ocorrer em casos de grande infecção ou quando os vermes são irritados por medicamentos impróprios, em dosagem inadequada e movimentos antiperistálticos e vômitos. (GRYSCHEK; LESCANO, 2008; REY, 2010).


MEDIDAS PREVENTIVAS (PROFILAXIA)

·  Melhoria do saneamento básico, envolvendo tratamento de água e esgoto;

· educação sanitária (utilizar água tratada, fervida ou filtrada para ingestão e para preparo de alimentos; lavar as mãos antes das refeições e sempre que usar o banheiro);

·  tratamento dos indivíduos parasitados.



REFERÊNCIAS



GRYSCHEK, R. C. B.; LESCANO, S. A. Z. Ascaridíase. In: AMATO NETO, V. A. et al. Parasitologia: uma abordagem clínica. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2008.  cap. 34. p. 240-243.


REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2010.





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