domingo, 26 de maio de 2013

TENÍASE E CISTICERCOSE


Teníase é uma doença intestinal humana popularmente chamada de “solitária”, causada pelos helmintos cestoides Taenia solium (Linnaeus, 1758) e Taenia saginata (Goeze, 1782). O nome popular da doença refere-se ao fato de que, em geral, cada indivíduo infectado é portador de um único parasito.


Uma característica importante de citar sobre o ciclo de vida desses organismos é que na fase larvária T. solium geralmente parasita suínos e T. saginata os bovinos, mas na fase adulta, ambos tem o ser humano como seu único hospedeiro.

É uma infecção de distribuição geográfica mundial, comum onde ocorre o hábito de consumir carne de porco ou de boi cruas ou mal cozidas. Atinge todas as faixas etárias, e está relacionada com hábitos alimentares e condições sanitárias de vida do indivíduo.


ASPECTOS MORFOLÓGICOS

As tênias são vermes grandes com formato de fita, achatadas dorsoventralmente e com coloração amarelada ou branca. T. solium mede de 1,5 a 4,0 metros de comprimento, enquanto T. saginata, de 4 a 12 metros. O corpo divide-se em: escólex, colo e estróbilo. Apresentam a cabeça ou escólex de tamanho reduzido, onde há quatro ventosas salientes e dupla coroa de até 50 acúleos inseridos em um rostro situado entre as ventosas. Estes acúleos são ausentes em T. saginata. (CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S., 2010; REY, 2010).




Verme adulto de Taenia spp. Fonte: http://www.parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/adulto-taenia/
Escólex - T. solium

O corpo segmentado, ou estróbilo, é longo e possui centenas de proglotes. As proglotes jovens são mais largas que longas, e sem estrutura genital. Já as mais maduras encontram-se formadas e sexualmente ativas. Há protandria, que consiste no desenvolvimento de órgãos masculinos ocorrendo mais rápido que os femininos. Este aparelho genital masculino é formado por massas testiculares pequenas, com número variando de 150 a 200 em T. solium e de 300 a 400 em T. saginata.


As tênias apresentam ainda um órgão copulador, o cirro, envolvido pela bolsa de cirro. Os órgãos femininos apresentam: ovário bilobado, glândula vitelínica e um tubo uterino. A vagina inicia-se junto ao cirro no poro genital e forma o receptáculo seminal. Apresenta uma porção do oviduto, envolvida por glândulas unicelulares, chamada de oótipo. (REY, 2010).


As proglotes grávidas são bem mais longas que largas. O útero é ramificado e cheio de ovos: de 30 a 40 mil em T. solium e de cerca de 80 mil em T. saginata. Os ovos são semelhantes nas duas espécies: formato esférico, com 30 a 40 µm de diâmetro e com um espesso embrióforo com um embrião hexacanto, já infectante.


As ramificações do útero das tênias variam entre uma espécie e outra: em T. solium, as ramificações são espessas, dendríticas e pouco numerosas, com no máximo 16 de cada lado, enquanto que em T. saginata, são dicotômicas e mais numerosas, com até 30 ramificações de cada lado. (CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S., 2010).
      
Ovo de Taenia sp nas fezes (400X).Fonte: http://www.farmacia.ufmg.br/ACT/atlas/taenia.htm



APÓLISE

Apólise é o processo pelo qual as proglotes começam a desprender-se do estróbilo das tênias, aparecendo nas fezes do hospedeiro. Isso ocorre após cerca de três meses, que é o tempo que estes parasitas levam para completar o seu desenvolvimento. T. saginata aumenta de 9 a 12 proglotes/dia, com o estróbilo apresentando de 1.000 até 2.000 proglotes, enquanto em T. solium, de 700 a 900. Outra diferença entre essas espécies observada na apólise é que T. solium elimina proglotes passivamente, em grupos de 3 a 6, junto com a evacuação do hospedeiro. Já a T. saginata expulsa de modo ativo, uma a uma, no intervalo das evacuações. Ambas eliminam cerca de 9 proglotes diariamente.
Quanto à sobrevida, as tênias vivem vários anos, podendo chegar a 25 anos ou mais. (REY, 2010).
           


TRANSMISSÃO 

A teníase ocorre pela ingestão de carne crua ou mal cozida, de porco ou de boi, contaminadas por cisticercos (larvas) de T. solium, na carne suína, e cisticercos (larvas) de T. saginata na carne de bovinos.


CICLO BIOLÓGICO E HABITAT

T. saginata

·   Proglotes (segmentos) de T.saginata destacam-se um a um e são eliminados nas fezes do parasitado, sendo que cada proglote grávida contém em média 80.000 ovos;

·  quando o gado ingere os ovos, ocorre a eclosão e ativação do embrião (oncosfera) no interior do seu corpo;

·  a oncosfera penetra na mucosa intestinal e chega à circulação sanguínea, sendo que o desenvolvimento posterior irá ocorrer no tecido conjuntivo dos músculos esqueléticos e no cardíaco dos animais;

· duas semanas após a infecção, os cisticercos (larvas) tornam-se visíveis na pele do boi, completando o amadurecimento e tornando-se infectante. Apresentam-se como uma vesícula de aspecto peroláceo, ovoide ou alongada, com aproximadamente um centímetro, cheia de um líquido claro onde encontra-se o receptaculum capitis - escólex invaginado da tênia.  A sobrevida dos cisticercos é de até 9 meses.
T. solium

·  Diariamente, cerca de cinco proglotes são eliminadas junto com as fezes do ser humano parasitado;

·   cada proglote grávida contém de 30.000 a 50.000 ovos;

·   os porcos, que possuem hábitos coprófagos, ao ingerirem as proglotes da tênia, tornam-se infectados em qualquer região do seu corpo, mas principalmente nos músculos esqueléticos e cardíacos;

·  o desenvolvimento do cisticerco se completa ao fim de 60 a 75 dias. A larva infectante pode permanecer no corpo do suíno por toda a vida.
(REY, 2010).

Após ingestão da carne crua ou mal cozida, de porco ou de boi, contaminados com cisticercos, estes são liberados pela digestão e, sob ação da bile, desenvagina-se o escólex. 

As ventosas do escólex fixam-se na mucosa do jejuno, prendendo-se firmemente pelos acúleos.

Após a infecção, aproximadamente dois meses, os indivíduos infectados começam eliminar junto com as fezes as proglotes de tênia. Nessa fase, no interior do corpo do parasitado, a tênia está medindo cerca de dois metros. O verme vive na luz do intestino delgado, sendo que cada indivíduo parasitado apresenta um único espécime deste helminto cestoide. No entanto, podem ocorrer casos de parasitismo múltiplo, por infestação de vários cisticercos ou por imunodeficiência do indivíduo, ou ainda, infecção com mais de uma espécie de tênia. (REY, 2010).
Ciclo Biológico de T. solium. Fonte: http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/Taenia_solium.htm


SINTOMAS E PATOGENIA

A teníase apresenta-se assintomática na maioria das infecções. Em casos sintomáticos, na presença de T. saginata, pode ocorrer redução da secreção gástrica, perturbações gastrintestinais, dor epigástrica (conhecida como dor de fome), perda de peso, apetite exagerado, dores abdominais, eosinofilia, náuseas, vertigens, cefaleia, diarreia e prurido anal. Em alguns casos pode haver obstrução intestinal ou desenvolvimento de apendicite por penetração de proglote no apêndice.


As infecções por T. solium é ainda mais assintomática que as observadas com T. saginata, pois o verme é menor e as proglotes eliminadas são menos ativas. Em casos sintomáticos, o quadro clínico é semelhante ao da infestação por T. saginata, porém, o ser humano, além de hospedeiro do parasita adulto, também é hospedeiro potencial das larvas da cisticercose humana. (REY, 2010).


MEDIDAS PREVENTIVAS (PROFILAXIA)

· Cuidados na preparação de carnes de porco e de boi: os cisticercos morrem em até seis dias, em carnes congeladas. Realizar o salgamento para preparo de charque, que também mata os cisticercos;

· só ingerir carne bem cozida ou assada;

· evitar a ingestão de alimentos de origem duvidosa, abate clandestino ou doméstico de porco e de boi;

· manutenção e fiscalização das condições sanitárias dos matadouros, fazendas e locais de criação de porcos e de bois;

· tratamento dos doentes: controlar a cura, pela destruição do escólex da tênia, pois o estróbilo pode reconstituir-se a partir dessa estrutura, reiniciando a infecção;

· educação sanitária: orientar a população sobre os cuidados no preparo das carnes suínas e bovinas.

· bons hábitos de higiene, que incluem a não defecação no solo (especialmente pessoas da zona rural e aquelas em condições precárias de higiene e saneamento básico) .






REFERÊNCIAS


CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia Humana e seus fundamentos gerais. 2. Ed. São Paulo: Atheneu, 2010.


REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2010.



Saiba mais em: 


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Aula Profº Alfredo Francisco Pliessnig: 
Porco ou Alface: de quem tenho mais medo? / Teníase e Cisticercose.


Informações sobre doenças transmitidas por água e alimentos - Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - SES/SP

Centro de Vigilância Epidemiológica - CVE



Cisticercose?! Não corro o risco de pegar essa doença, sou vegetariano! Será verdade? Rosa Maria Rogenski Penteado - profª-IES-UEPG


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